terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Passarela da Ilha do Jegue é a preservação da história de Itabuna



Num período onde as atividades do dia a dia limitam o tempo e as ações das pessoas, restringindo sua percepção à mera repercussão daquilo que viraliza nas internet por meio das redes sociais, observar a reescrita da história promove no olhar dos mais atentos uma mistura de sensações que vão da emoção à gratidão por rever um cenário que marcou uma época, que simbolizou a vida de uma cidade. Sobre isso, é comentado aqui a Ilha do Jegue, que no meio do rio Cachoeira foi destaque e que o tempo fez questão de com ele levar para, assim, na história ficar.
           Uma das três ilhas que no Cachoeira existiam e que no processo natural de erosão foram engolidas pelo rio, a Ilha do jegue já foi Ilha da Marimbeta e ali, no início do século XX, cresciam plantações, animais foram criados e muita história aconteceu. Mais tarde, passou a ser a Ilha do Temístocles, depois foi chamada ainda de Ilha do Capitão. Quis o destino que, no ano de 1920, numa das grandes cheias do Cachoeira (segundo historiadores, choveu por mais de 20 dias), um areeiro deixasse o seu animal e companheiro de trabalho pelos mais de três hectares da Ilha, ficando o Jegue preso, ilhado e sem condições de retornar à margem do rio.
           Na história, cujos relatos já passam da terceira geração, diz-se que foram cinco dias de torcida para que o animal saísse com vida da Ilha – pessoas passavam o dia à margem do rio observando e torcendo pela vida do animal. De fato ele saiu. Após a baixa das águas, eis que o Jegue retornou ao seu dono, fincando naquela localidade a história e surgindo assim a Ilha do Jegue, numa daquelas situações em que o dizer popular ultrapassa qualquer fronteira temporal ou de imposição que venha a ser colocada. O dizer popular prevaleceu.
           Mas hoje é 2018. Quase um século depois, a Ilha já não existe mais e os itabunenses mais novos nem sequer saberiam que um dia ela existiu não fosse pela força da história. O que haveria de ser feito além de restaurar os arquivos fotográficos para preservar essa narrativa? Numa ação que contrapõe o passado e abre uma fronteira ao implantar um equipamento que remete à modernidade – a passarela da Ilha do Jegue –, o prefeito Fernando Gomes resgata parte desse contexto histórico e mantém no imaginário popular a curiosidade pela narrativa, preservando, dessa forma, a história daquele local.
           A passarela integra ainda mais a cidade, torna-se um novo cartão postal, embeleza a região onde foi instalada e, graças ao mirante localizado exatamente no ponto central da famosa Ilha do Jegue, preserva a história do rio Cachoeira, a história de Itabuna (que obviamente se confunde com a do rio). Quis a natureza que deixasse de ser Ilha. Fez-se o bom senso e o compromisso com a história que passasse a ser passarela e que nela existisse o Mirante. Não é obra ou simples intervencionismo de gestão municipal, é preservação e valorização da história de Itabuna.

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