quarta-feira, 27 de junho de 2012

Sob protesto de grevistas, estudantes assistem ao primeiro aulão na capital

Evento é parte de plano para reverter prejuízos da greve para os alunos.
"É uma oportunidade de aprender", afirma vestibulanda de 17 anos.


Com tema central "conflitos contemporâneos", o primeiro "aulão" voltado para os jovens inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi iniciado por volta das 14h desta quarta-feira (27), na capital baiana, em meio aos protestos dos professores da rede estadual, em greve há 78 dias. Os estudantes chegaram à Escola Parque, no bairro Caixa D´Água, aos poucos. Uma hora após início da sessão inaugural, a Secretaria de Educação, por meio da assessoria de imprensa, somou 410 participantes, número inferior à capacidade total, que é 500. A expectativa era a de que a demanda fosse maior do que a quantidade que foi estabelecida conforme a estrutura.
Primeiro aulão Bahia Salvador (Foto: Rafaela Ribeiro/G1)Sala fica parcialmente vazia no primeiro "aulão",
em Salvador (Foto: Rafaela Ribeiro/G1)
Renato Cerqueira, 17 anos, matriculado no Colégio Estadual Luiz Tarquínio, acredita que assistir as aulas, mesmo que não haja notas, contribue para melhorar o seu desempenho de vestibulando. "É bem legal ter esse aulão. Muita gente tem falado que não vai valer como ano letivo, mas é a chance de ter mais bagagem, de ir para o Enem, vestibular, e ter chance de passar. É um reforço", acredita ele, que também tem frequentado as aulas emergencias para o 3° ano, reiniciadas no início desta semana. Para a estudante Solange Mascarenhas, 17 anos, que também esteve presente, a aula é "um incentivo para estudar". "Depois de tanto tempo dentro de casa, é uma oportunidade de aprender", afirma.
Outros 12 bairros populosos da cidade também recebem os "aulões", uma das medidas do pacote de emergência definido pelo Governo da Bahia diante da greve, e que ocorrem ainda em outras onze cidades do estado, com foco no Enem. O cronograma está no site da Secretaria. Serão realizados 384 "aulões", no total, ao custo de pouco mais de R$ 1,5 milhão, o que corresponde a R$ 4.145,00 por aula. Os professores regulares do estado fazem campanha por reajuste salarial e reclamam da falta de abertura para negociação por parte do governo. A ação ajudará a "minimizar prejuízos" a aproximadamente 22 mil jovens vestibulandos somente em Salvador. Na capital, o próximo "aulão" ocorre no sábado (29), mesmo dia em que começa o processo no interior do estado.
Nesta experiência inicial, a aula foi ministrada pelos professores dos cursos pré-vestibulares particulares da capital Elísio Brasileiro (História e Ciência Política), Apolinário (Geografia) e Jorge France (História). Temas como a guerra na Síria, as revoltas da "Primavera Árabe", o narcotráfico, as guerras em países africanos e os conflitos Israel-Palestina foram abordados.
"Cada aula tem uma dinâmica, cada professor vai jogando para o outro, para a aula não ficar monótona. A ideia é minimizar os efeitos da greve, com foco no Enem, não no ano letivo. São dois a três professores por aulão. Ainda vamos ter simulados pelo site", afirma Jorge Portugal, professor, coordenador do evento e sócio da empresa contratada. Jorge Portugal opina que a greve é um "legítimo direito dos professores". "Não sou contra a greve, sou a favor dos professores, que eles ganhem até R$ 26 mil", relata. Ele explicou, na terça-feira (26), que as aulas são interdisciplinares, com 32 temas comuns às provas do Enem.
Os professores grevistas que protestaram em frente à escola discordam da contratação, entre eles, Carles Henry, de geografia. "Estamos espantados porque o governo diz que não tem dinheiro e contrata essa empresa para realizar os aulões. Tem dinheiro para contratar, mas não tem para cumprir o acordo", relata.
Professores em greve protestam Bahia Salvador (Foto: Danutta Rodrigues/G1)Grevistas fazem manifestação em frente à escola
(Foto: Danutta Rodrigues/G1)
A Secretaria de Educação, via nota, disse que contratou a empresa Abais Conteúdos Educativos e Produção Cultural Ltda devido à "capacidade técnica, pedagógica e de infraestrutura" da empresa. Questões da infraestrutura estão contempladas no orçamento, entre eles, sonorização, iluminação, palco, organização pedagógica e filmagem dos aulões para veiculação na internet. Por se tratar de emergência, não houve etapa de licitação na contratação, informou o órgão.
Retomada de aulasO 3° ano do ensino médio foi a única série contemplada no plano emergencial para retorno das aulas, mesmo com greve, ocorrida na segunda-feira (25).  Para saber em qual unidade vai estudar, os alunos podem acessar o site da secretaria. Informativos foram disponibilizados na portaria de cada escola e nas portas das salas para orientar professores e alunos. Cerca de 22 mil jovens são contemplados com a medida. Foram convocados 545 professores para ministrar as aulas. Eles atuam em estágio probatório e 706 contratados pelo Regime Especial de Direito Administrativo (Reda), além de profissionais que não aderiram ou que encerraram a participação no movimento.
Professores em greve protestam Bahia Salvador (Foto: Danutta Rodrigues/G1)1° 'aulão' ocorreu na Escola Parque, no bairro Caixa
D´Água (Foto: Danutta Rodrigues/G1)
Interior
Em Feira de Santana, cidade a cerca de 100 km da capital, 50 mil alunos estudam em 78 escolas da rede estadual. Do total, 4.592 estão matriculados no 3° ano. A greve paralisa as atividades em 43 escolas e, das demais, 13 funcionam parcialmente. De acordo com a Diretoria Regional de Educação (Direc), a reposição das aulas na cidade ocorrerão durante 16 sábados a partir de julho. Na cidade, 99 professores em regime Reda foram convocados para ministrar as atividades. Outros 55 que foram aprovados no último concurso da Secretaria Estadual da Educação também serão chamados.
Em Itabuna, a Direc do sul da Bahia afirma que oito das 20 escolas estaduais voltaram às aulas do 3° ano. Na cidade de Ilhéus, 35% dos estudantes do 3° ano voltaram a estudar. Dos 22 colégios estaduais, dez continuam sem aula, segundo a Secretaria da Educação. Na cidade de Barreiras, situada no norte do estado, das 15 escolas estaduais, 11 funcionam normalmente, informa o Direc local.
Adesão à greve
O secretário Osvaldo Barreto criticou a postura dos sindicalistas de estender a greve sem considerar os vestibulandos e garantiu que não existe a possibilidade de nova proposta por parte do governo. “Dos 417 municípios, nos aproximamos de 300 municípios sem nenhuma dimensão de greve, que se concentra basicamente em Salvador e em Feira de Santana”, afirma.
Pedido dos professores
Os professores pediram reajuste de 22,22%. Eles alegam que o governo fez acordo com a categoria, em novembro do ano passado, que garantia os valores do piso nacional, e depois ignorou o acordo mandando para a Assembleia um projeto de lei com valores menores. No dia 25 de abril, os deputados aprovaram o projeto enviado pelo executivo que garante o piso nacional a mais de cinco mil professores de nível médio. A proposta feita pelo governo prevê reajuste salarial entre 22% e 26% por meio de progressão na carreira, através da presença regular em cursos de qualificação promovidos pelo governo. O sindicato aponta, por outro lado, que a proposta não contempla os professores aposentados, em licença médica e estágio probatório.

Um comentário:

  1. Anônimo27/6/12

    Você sabem quanto um professor ganha para dar as suas aulas e quanto esses que estão dando aulões irão ganhar? Isso é ridículo, ilário e fora da realidade. Já imaginou os professores que estão o ano todo com os alunos, elaborando aluas, provas, corrigindo, além da relação pessoal entre alunos, ganhassem o que esses professores irão ganhar por cada aula? O que eles têm de diferente? O governo quer pagar menos para os professores com especialziação, mestrado, doutorado e certificações? o que eles tem a mais para justificar esse gasto? Não é estranho? Aula com cantores? Ah, se a vida fosse assim. Isso é um engodo. Não devemos er coniventes com isso. Vem aí o dia 2 de Julho e a Bahia não pode falar em independência. Independência de quê? vamos trabalhar com a verdade.Quero saber do FUNDEB. Por favor, procurem saber do FUNDEB. O governo e os meios de comunicação não falam sobre isso. Por quê? Os professores estão querendo o reajuste direcionado ao piso nacional e ao repasse do FUNDEB que destinado à educação e ao pagamento dos professores. Vocês acham que os professores não estão preocupados com as aulas? Agora, por que o governador em vesz de gastar dinheiro com isso (que só mostra a sua incoerência) não senta para cumprir com o lei federal e com o que prometeu? Devemos confiar na palavra de quem assina um acordo, depois faz outro e vai para os omeios de cominicação faalr outra coisa. Vamos buscar a verdade, o real papel dos meios de comunicação.

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